NOBREZA NA HISTÓRIA

Bem vindo ao blog NOBREZA NA HISTÓRIA. Contém os cinco primeiros capítulos do meu livro A VOLTA AO MUNDO DA NOBREZA, que narra episódios interessantes descrevendo a atuação da nobreza de vários países ao longo da História. Se você gostar desses cinco capítulos, poderá adquirir o livro nos seguintes sites:
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Leon Beaugeste

segunda-feira, 26 de maio de 2008

05 - A ALMA NOBRE TEM A VIRTUDE DA MAGNANIMIDADE

Caros amigos, quero pedir-lhes desculpas por não ter identificado ontem os colaboradores que forneceram alguns dos fatos e textos citados. Foram os seguintes: Richelieu, Valdeiglesias, Chesterfield, Escovedo, Egmont, Orloff, Falkenstein, Joinville. Esses ótimos textos permitiram-nos fazer uma incursão em terreno específico da nobreza, que consiste em tratar os inferiores de modo elevado e digno, sem no entanto rebaixar-se. Dar ao serviçal mais do que lhe é devido, recompensar generosamente um benefício recebido, dar mais do que nos foi pedido, perdoar – são atitudes que podem ser encontradas até em pessoas de condição muito humilde, embora naturalmente sejam esperadas em maior número de quem tem abundância de meios para isso. Entre os nobres isso era o habitual, conforme veremos ainda nos exemplos que já recebi, e que selecionei para hoje.

From: Schwartzenberg
Embora considerado excessivamente econômico, o rei Frederico II sabia reconhecer as necessidades dos seus servidores e recompensá-los pelos seus méritos. Um cabo da sua guarda não tinha relógio, mas usava uma corrente de ouro bem visível, em cuja extremidade colocara em vez de relógio uma bala de fuzil, e a mantinha dentro do bolso. Informado disso, ou presumindo-o, o soberano abordou o cabo:
— O senhor deve ser bastante econômico, para ter podido comprar um relógio. O meu marca seis horas. E o seu?
Mostrando o “relógio”, o guarda respondeu:
— Senhor, o meu não marca nem cinco nem seis, mas recorda-me a cada instante que devo lutar pelo meu rei.
— Bem, amigo. Então fique com o meu relógio, e assim poderá saber a hora em que morrerá por mim.(109:2828)
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O geômetra Maupertuis acompanhou Frederico II na batalha de Molwitz contra o imperador austríaco. Foi preso pelos hussardos, despojado dos bens que tinha consigo e enviado prisioneiro a Viena. Conhecendo sua fama, o imperador quis vê-lo, e durante a conversa perguntou:
— Dentre os bens que os meus hussardos lhe tomaram, havia algum que fosse especialmente caro?
— Majestade, os bens não eram valiosos, mas um relógio da marca Greham me era muito útil para minhas observações astronômicas.
O imperador possuía um relógio dessa marca, porém adornado com diamantes. Mandou buscá-lo e o entregou a Maupertuis, dizendo:
— Os hussardos quiseram fazer-vos um agrado, e me entregaram o relógio para que fosse devolvido. Aqui está ele.(58:3:381)

From: Joinville
Estou aqui de novo, para ressaltar que uma das características da magnanimidade é dar em abundância, às vezes mais do que se pede. Eis um exemplo.
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Num ano em que faltava vinho para os doentes pobres do hospital de Paris, o diretor procurou S. Luís IX a fim de conseguir a verba, declarando que bastariam cem libras. O rei chamou o tesoureiro e mandou dar-lhe mil libras. O diretor objetou que talvez ele houvesse entendido mal, mas o rei repetiu:
— Dai aos pobres do hospital de Paris mil libras.(78:187)

From: Saint Simon
Beaugeste, andei estudando a corte de Versalhes, e pretendo fornecer-lhe alguns dados sobre a vida de Luís XIV e Luís XV, principalmente. Envio hoje os primeiros, e aos poucos irei acrescentando outros.
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O célebre arlequim Dominique, durante um almoço de Luís XIV, olhava com muita atenção um assado de perdiz. Percebendo-o, o rei disse a um servo:
— Ofereça aquele prato a Dominique.
O arlequim entendeu que se tratava do recipiente, que de fato era o objeto da sua admiração, e perguntou espantado:
— Como, Senhor?! Também a perdiz?
Como o prato era de ouro maciço, com essa pergunta o arlequim ganhou o assado e o prato de ouro.(1:609)
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Em 1783, Montgolfier se preparava para o vôo experimental do seu balão, e pretendia colocar animais na naveta. O artesão que com ele trabalhava insistia em fazer pessoalmente essa viagem, mas Montgolfier a julgava arriscada demais, e não queria expor a tal perigo uma vida humana. Afinal o vôo se fez com segurança e o balão pousou a poucos quilômetros de Versalhes. Luís XVI quis que os três animais permanecessem no parque do palácio até a morte. Madame de Lamballe, dama da corte, percebeu então que havia um homem chorando, e foi perguntar-lhe o motivo.
— Senhora, bem que eu tinha razão. Agora esses três animais vão ter tudo do bom e do melhor; e eu, o pobre artífice que construiu esse balão, não receberei nenhuma recompensa.
Impressionada, Madame de Lamballe entregou-lhe algumas moedas de ouro.(1:148)
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O filho de Luís XV, pai do futuro Luís XVI, matou acidentalmente durante uma caçada o seu escudeiro. Empenhou-se em assegurar a situação financeira da viúva e filhos. A viúva estava grávida, e quando nasceu esse filho póstumo, ele decidiu também sustentá-lo. Alguém o advertiu:
— Isso não é costume, senhor.
— Também não é costume um escudeiro do delfim morrer pelas mãos do seu senhor.(27:2:447)

From: Montmorency
Beaugeste, uma das constantes preocupações e atenções dos reis e nobres era com o bem estar dos seus súditos e servidores. Dou-lhe alguns exemplos.
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Entrando numa igreja para rezar, Luís XI encontrou na entrada um sacerdote, que lhe expôs a sua situação:
— Já estive no cárcere por causa de dívidas, e agora querem prender-me novamente pelo mesmo motivo. Não tenho como pagar, e vos peço que tenhais piedade de mim.
— O senhor escolheu bem a hora adequada para o pedido. Como poderei deixar de atender, se estou entrando aqui para pedir a Deus que tenha piedade de mim? Darei o dinheiro de que precisais.(32:8583)
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Um funcionário do palácio de Francisco I reclamava:
— Corro o risco de morrer pobre, pois há muito o rei não me faz nenhum benefício.
Sabendo do comentário, o rei francês mandou chamá-lo:
— Soube que andou reclamando de mim, mas acho que lhe falta é sorte. Vamos ver: aqui estão duas bolsas cheias, uma de ouro e outra de chumbo. Escolha uma das duas.
E a bolsa escolhida era a de chumbo.
— Viu como eu tinha razão? Mas, para consolá-lo, dou-lhe também a outra bolsa.(33:2631)
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Um oficial perdeu numa batalha dois magníficos cavalos, e não conseguia substituí-los devido à sua situação financeira. O marechal de Turenne chamou-o e deu-lhe de presente dois cavalos, mas advertiu:
— Peço-lhe não contar isso a ninguém. Se outros ficarem sabendo, muitos virão pedir-me que lhes faça o mesmo, e não terei condições para atendê-los.(32:14403)

Mais alguns exemplos confirmam esse desprendimento dos nobres em relação aos súditos. Foram fornecidos por Kaunitz e Escovedo.
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Um oficial pobre pediu ao imperador José II um subsídio que lhe possibilitasse manter a família, e foi-lhe prometido:
— Só disponho de vinte moedas de ouro. Elas lhe bastam?
Um cortesão ali presente, sem ser a isso convidado, avaliou:
— É demais, senhor! Basta a metade disso.
— Bem... E o senhor tem aí a quantia de que falou?
O cortesão mostrou-a ao imperador, que se dirigiu então ao oficial:
— Agradeça ao amigo aqui presente, que se dispôs generosamente a acrescentar dez moedas às minhas vinte.(32:6522)
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O rei Carlos II da Espanha tinha dezesseis anos. Na Sexta-feira Santa, quando percorria a Via-sacra, deu a um pobre uma cruz de brilhantes que usava. Pouco depois os membros do séquito perceberam a falta da cruz e apregoaram que havia sido roubada. Logo o pobre se apressou a mostrá-la, e disse:
— Aqui está a cruz. Foi Sua Majestade quem me deu.
O rei confirmou as palavras do pobre. Como se tratava de uma das jóias da coroa, não podia ser alienada, mas o Conselho decidiu manter a esmola feita pelo rei e dar ao pobre o valor da cruz em dinheiro.(109:583)
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Um mercador português pretendia vender ao rei Filipe IV um diamante de grande beleza, mas este não se entusiasmou, apesar dos comentários embevecidos dos cortesãos. O rei perguntou:
— Quanto o senhor pagou pelo diamante?
— Setenta mil ducados, senhor.
— Mas em que o senhor pensava, quando pagou tanto?!
— Senhor, eu pensava que há no mundo um rei Filipe IV...
Em atenção à agudeza de espírito, o rei acabou comprando o diamante.(32:5394)

From: Valdeiglesias
Tenho aqui dois exemplos de como o Gran Capitán Gonzalo de Córdoba recompensava com liberalidade os seus soldados.
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Depois das suas retumbantes vitórias na Itália, Gonzalo de Córdoba se pôs a distribuir livremente entre os seus comandados as cidades, fortalezas, terras e títulos de nobreza. Embora satisfeito com as vitórias, o rei Fernando reclamou:
— Gonzalo conquistou para mim um reino, mas reparte-o antes que me chegue às mãos?(109:594)
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Em 1512, quando foi ordenado ao espanhol Gonzalo de Córdoba que licenciasse o seu exército da Itália, ele dissimulou cuidadosamente a revolta que isso lhe provocava, e mandou que se distribuísse a todos os seus comandados uma grande soma em dinheiro. Alguém lhe censurou essa prodigalidade, e ele explicou:
— Não se deve fechar nunca a mão. Não existe modo melhor para usufruir os bens do que dando-os.(110:278)

Pode-se encontrar magnanimidade até na guerra, apesar de ser a vitória contra o inimigo o que nela se deseja. Este assunto de guerra foi detidamente estudado pelo amigo Clausewitz, que colabora a partir de hoje dentro da sua especialidade, e nos forneceu os fatos seguintes.
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As tropas alemãs, em retirada após uma derrota, faziam massacres e crueldades contra todos os franceses que encontravam, tanto militares quanto civis. As tropas do general francês Favert encontraram um grupo de soldados alemães feridos que tinham sido abandonados à própria sorte. Um oficial francês propôs que fossem vingadas nesses feridos alemães as atrocidades de que eles próprios eram vítimas, mas Favert discordou peremptoriamente:
— O vosso conselho corresponde ao de bárbaros como os nossos inimigos. Vinguemo-nos de maneira mais nobre, digna de nossa nação civilizada.
E deu ordem a que os soldados franceses cuidassem dos feridos, dando-lhes ainda a alimentação de que pudessem dispor. Os feridos que se curaram passaram quase todos ao exército de Favert, pois não queriam retornar ao meio de quem os havia abandonado e sacrificado.(32:5008)
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O rei Afonso V de Aragão havia sitiado Gaeta, defendida pelo exército de Francisco Spínola. Quando este considerou inadiável a rendição, mandou que saíssem da cidade todas as pessoas não combatentes. Afonso V teve a generosidade de acolhê-las no acampamento e socorrê-las com todo o necessário. Alguns do exército murmuraram, e ele lhes disse:
— Não vim aqui lutar contra mulheres e crianças, e sim contra pessoas capazes de defender-se. Prefiro não ganhar a batalha a provocar a morte de tantos inocentes.(109:2222)
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As tropas do imperador Conrado III sitiaram Weinsberg, e estava próxima a rendição. Algumas mulheres compareceram ante o imperador e pediram permissão para todas as mulheres abandonarem a cidade levando consigo o que pudessem carregar. Concedida a permissão, pouco depois as mulheres apareceram carregando nas costas os maridos, filhos e irmãos. O imperador se emocionou e perdoou toda a população.(1:166)

From: Contrappunto
Beaugeste, sou novo na sua turma, e acho que posso contribuir com fatos de um gênero um tanto diferente. Não são contrários ao seu objetivo, mas mostram outros aspectos da realidade, que oferecem um contraste com os exemplos bonitos e até comoventes que você vem colecionando. Veja os dois que vou narrar, e entenderá o que pretendo mostrar.
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O riquíssimo conde de Romanones nunca levava dinheiro consigo. Viajando certa vez de trem para uma campanha eleitoral, foi recebido em várias estações por bandas de música. Chamou o redator de um diário, que o acompanhava, e disse:
— Encarregue-se de dar a esses músicos uma gratificação.
Ao fazer o acerto de contas em Madri, o conde achou exorbitante a quantia que o redator havia pago aos músicos. Chamou-o, e disse:
— Vamos ver, homem de Deus, como é que o senhor explica essas contas.
— Senhor conde, eu entreguei a cada músico tal quantia.
— O senhor quer dizer que entregou essa quantia a cada banda de música, não é?
— Não, senhor, a cada músico. Porque não era eu quem a estava dando, e sim o conde de Romanones, um dos homens mais ricos da Espanha.
— E o senhor acredita que o conde estaria hoje tão rico como dizem, se saísse por aí dando gratificações como essa?(109:1232)
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O neto do duque de Buckingham era muito econômico, e explicou a um amigo:
— Tenho verdadeiro pavor de morrer pobre como um rato de igreja.
— Mas eu tenho medo é de que o senhor viva do modo como receia morrer.(32:2010)

A magnanimidade pode ser também praticada por plebeus. Pode haver mérito sem elevação, mas não há elevação sem algum mérito.64:400 Veja este fato enviado pelo Kaunitz.
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O rico comerciante Jean Daens fez ao imperador Carlos V um vultoso empréstimo. Após um banquete que ofereceu ao monarca, mandou acender o fogo na lareira, queimou nele o recibo que lhe fora dado em garantia do empréstimo, e disse:
— Senhor, depois de ter-me dado a honra de participar da minha mesa, vossa dívida não existe mais.(109:1516)

Caros amigos, acho que hoje caminhamos bastante. Além de conseguir novos colaboradores, os fatos estão formando um conjunto bem adequado à realidade que eu imaginava, mas não conseguia comprovar. Pelo que vimos, pode-se constatar que a felicidade é um bem que se multiplica ao ser dividido.(13) Vamos continuar pesquisando, e já estou certo de que poderei apresentar ao meu professor um quadro surpreendente. Será que ele sabia, por exemplo, que predominavam entre os nobres exemplos de virtudes como a magnanimidade? Os fatos de hoje estão de acordo com o que eu disse a ele, e comprovam que


A alma nobre tem a virtude da magnanimidade

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