NOBREZA NA HISTÓRIA

Bem vindo ao blog NOBREZA NA HISTÓRIA. Contém os cinco primeiros capítulos do meu livro A VOLTA AO MUNDO DA NOBREZA, que narra episódios interessantes descrevendo a atuação da nobreza de vários países ao longo da História. Se você gostar desses cinco capítulos, poderá adquirir o livro nos seguintes sites:
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Leon Beaugeste

segunda-feira, 26 de maio de 2008

04 - AS RELAÇÕES DOS NOBRES COM O POVO ERAM CORDIAIS E DE AJUDA MÚTUA

Prezados amigos, a idéia que geralmente se tem é que os nobres se isolavam, não se misturavam com gente de baixa condição, e só se interessavam pelos imensos privilégios que desfrutavam. No entanto, basta examinar a vida dos autênticos fazendeiros e as relações com seus colonos, nos antigos tempos do Brasil, para se concluir que as coisas não eram assim, pois o sistema de vida que levavam era baseado no da Europa. Os nobres eram, na maioria dos casos, grandes proprietários de terras que as administravam pessoalmente. Só se afastavam durante algum tempo, para participar de guerras ou para trabalhos específicos na corte. Isto é afirmado por grandes estudiosos do assunto, como nos textos seguintes enviados por um colega.
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Pela ordem natural das coisas, é próprio à nobreza formar com o povo um todo orgânico, como cabeça e corpo. E é característico da nobreza uma tendência a evitar uma diferenciação vital, procurando integrar-se no grande conjunto social.(89:142) Os fatos pequenos e grandes estão em flagrante contradição com o que ensinam os manuais de História, isto é, que os poderosos do Antigo Regime, os nobres e os senhores, mostravam-se sempre soberbos, arrogantes, pretensiosos e vaidosos; duros para com os humildes curvados sob o peso dos trabalhos da gleba e submetidos aos caprichos desses senhores impiedosos.(41:51)
As relações de trabalho, pelo simples efeito da caridade cristã, tendiam sempre a extravasar do mero âmbito profissional para o âmbito pessoal. Nas longas convivências de trabalho, os nobres inspiravam e orientavam os que lhes estavam abaixo, e a seu modo o mesmo faziam estes em relação aos nobres: informavam suas aspirações e diversões, seu modo de ser na Igreja, na corporação ou no lar, e também as circunstâncias concretas da vida popular e as necessidades dos desvalidos. Tudo isto constituía um circuito de inter-relações entre maior e menor.(89:246)
Nos países dotados de uma reta aristocracia, tanto quanto possível as relações eram pessoais. A influência do maior sobre o menor, como a do menor sobre o maior, exercia-se em razão de uma relação de afeto cristão estabelecida de parte a parte. Afeto que trazia consigo, como efeito, a dedicação e a confiança mútuas. E que resultava até numa sociedade de fato, dos domésticos com os patrões. Algo como um protoplasma formado em torno do núcleo. Basta ler o que dizem os verdadeiros moralistas católicos sobre a sociedade heril, para ter uma noção exata desse tipo de relação.(89:247)
A nobreza francesa deveu sua grandeza àquilo que fez a grandeza das aristocracias antigas: o devotamento das classes dirigentes às classes dirigidas, a vinculação das classes dirigidas às classes dirigentes, a união dos esforços para o maior bem de todos.(50:77)
Antes da Revolução Francesa, os camponeses, os nobres e os burgueses conviviam em perfeita camaradagem, e a divisão entre as classes da sociedade era muito menos marcante do que hoje. A ternura do povo em relação aos seus senhores era acrescida de uma confiança recíproca, que se manifestava de ambas as partes em todas as ocasiões. Os soberanos não receavam misturar-se com o povo; pelo contrário, procuravam-no sempre, certos de encontrá-lo sempre respeitoso e acolhedor.(41:83)

Esse relacionamento amistoso era generalizado, como afirmam historiadores e sociólogos idôneos. Alguns fatos que me foram fornecidos sobre a França não deixam margem a dúvida.
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Numa conversa com seu senhor, um colono francês dizia:
— No mês passado completaram-se trezentos e quarenta e sete anos desde que estamos convosco.
O senhor respondeu:
— Nós estávamos aqui bem antes disso. Não sei ao certo quanto tempo, mas são mais de seiscentos anos.(50:108)
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A afabilidade generalizada entre nobres e plebeus, antes da Revolução, se reflete bem no episódio de três estudantes de Nancy. Em maio de 1787, tendo ido a pé da Lorena a Paris, eles não tinham na grande cidade nenhum conhecido, mas entraram com facilidade nos palácios dos príncipes. No palácio do conde de Artois, em Bagatelle, foram introduzidos até no próprio quarto de dormir. No palácio Bourbon, onde morava o príncipe de Condé, após terem percorrido todas as galerias, o zelador que os acompanhava comunicou-lhes que, caso quisessem visitar os apartamentos particulares, deveriam escrever ao príncipe pedindo autorização. Não se fizeram de rogados, e assim procedendo obtiveram um bilhete do príncipe concedendo-lhes a autorização solicitada. Em Chantilly, passearam por toda parte. Quando estavam a ponto de deixar esse local de delícias, um oficial de Sua Alteza sugeriu-lhes que aproveitassem uma das carruagens do príncipe, que estava saindo naquele instante para Paris. E os três turistas voltaram em companhia de duas damas da corte, numa carruagem com as armas do príncipe de Condé.(41:48)
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Os nobres, mesmo os de mais alta estirpe, participavam das festas de casamento dos camponeses e outros súditos.(37:2:108) O duque de Croy assistiu à festa de casamento do príncipe de Condé com Charlotte de Rohan-Soubise; e relatou que, depois de terem dançado durante toda a noite, resolveram dar um passeio matinal pelos arredores. Cerca de quinze jovens nobres, inclusive os recém-casados, foram até Vanves, e lá encontraram um cortejo que se dirigia à igreja para as núpcias de um casal de jovens do local. Todos se incorporaram ao grupo, assistiram ao casamento na igreja, e depois foram participar da festa na casa da noiva, como todos os demais convidados.(41:83)
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Chegou ao conhecimento do duque de Montausier que um surto de peste atingira a cidade de Rouen, da qual era governador. Ele decidiu partir imediatamente para lá, e quando começaram a surgir os conselhos em sentido contrário, inclusive da própria esposa, argumentou:
— A meu ver, a obrigação dos governadores de residir junto ao seu povo é tão premente quanto a dos bispos. Mesmo que ela não seja estrita em qualquer circunstância, pelo menos o é por ocasião de calamidades públicas.
Em seguida viajou para Rouen e cerrou as portas da cidade, tomando todas as providências para deter e evitar a propagação da peste, que foi cedendo e se extinguiu ao fim de dois meses.(58:2:8)
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Quando velho e retirado em São Graciano, o marechal Catinat visitava as casas das pessoas humildes. Com freqüência abria os armários à procura de pão. Não encontrando, perguntava:
— Não tendes pão?
Se a resposta era negativa, dizia ao seu servidor:
— Vicente, vai comprar pão para eles.
Como não era rico, ele o fazia à custa de cortes nas próprias despesas. Quando morreu, os camponeses e operários lamentavam:
— Como faremos agora, sem o nosso bom pai? Ele muitas vezes se resignava a comer o pão velho, para que pudéssemos ter pão de boa qualidade.(32:2720)
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Durante a Revolução Francesa, cantava-se muito uma canção que dizia: “Quando tínhamos um só rei, não havia miséria; agora, com mil e duzentos reis (os deputados da Assembléia), há falta de tudo nesta terra”. Era a paródia de uma canção composta por Madame Thévenet, do séquito da irmã do rei Luís XVI, Madame Elisabeth. A origem da canção é a seguinte. Para fornecer leite no castelo de sua propriedade, Mme. Elisabeth havia encomendado da Suíça quatro excelentes novilhas, que foram acompanhadas pela jovem Maria a fim de cuidar delas. Porém Maria havia deixado na Suíça o seu noivo Jacques, por isso vivia calada e triste. Tomando conhecimento desse motivo, Mme. Thévenet compôs a canção “Jacques, quando eu estava junto de ti”. Ensinou-a à moça, que se pôs a cantá-la com freqüência. Ouvindo-a, Mme. Elisabeth se informou e descobriu que a canção narrava a realidade pessoal de Maria, e mandou trazer da Suíça também o noivo.(27:1:166)

O mesmo acontecia em outros países. Vejamos alguns exemplos.
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O imperador Carlos V passeava com trajes comuns em Viena e viu um camponês carregando um leitãozinho, que grunhia a plenos pulmões. Interpelou-o:
— Então não sabes como se faz para silenciar um leitão?
— Não, senhor, e agradeceria se pudesse ensinar-me.
— Deves segurar o leitão pelas patas traseiras e mantê-lo de cabeça para baixo.
Feito como lhe foi ensinado, o leitão parou de grunhir, como por encanto. E o camponês agradeceu ao desconhecido:
— Vejo que o senhor trabalhou nisso mais do que eu.(32:2425)
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Passeando pelo campo, lord Abigdon encontrou um camponês que a muito custo segurava um bezerro pelos chifres com as duas mãos. Aproximou-se e perguntou:
— O senhor me reconhece?
— Sim senhor, lord Abigdon.
— E não lhe parece que já devia ter tirado o chapéu?
— É isso o que eu gostaria de fazer, milord, e o farei se o senhor tiver a bondade de segurar para mim este bezerro, que já me escapou três vezes.(1:200)
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Um potentado argentino burguês visitou na Espanha o duque de Veragua, descendente de Cristóvão Colombo. Encontrou-o em sua fazenda, conversando tranqüilamente com seus camponeses. Quando estiveram a sós, manifestou-lhe:
— Confesso que me surpreende ver o senhor conversar diretamente com seus criados.
— Por quê?! Será que vocês da América inventaram algum aparelho para isso?(109:2246)
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O rei belga Alberto I se interessava muito pelas dificuldades dos operários. Com freqüência visitava oficinas e fábricas, conversava com os chefes de serviço e procurava informar-se sobre seus problemas. A um francês que fora procurá-lo, advertiu:
— Devem ter dito ao senhor que sou um rei comunista.
Diante dos protestos do francês, ele acrescentou:
— Dizem por aí que sou um rei esquerdista, mas não sou nem de esquerda nem de direita. Tenho, sim, muito empenho em defender meus operários belgas contra os capitalistas internacionais.(32:81)

Era tão cordial e amigável o contato dos nobres com os seus servidores, que freqüentemente se valiam da experiência destes para aprimorar as suas atividades.
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A imperatriz Catarina II afirmou:
— Aprende-se mais numa conversa com trabalhadores ignorantes, sobre aquilo que eles fazem, do que com esses que se consideram sábios mas não vão além de teorias, e que não se envergonham de responder com afirmações ridículas sobre coisas das quais não têm nenhum conhecimento positivo.(76:164)
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Frederico II resolveu cultivar um terreno de acordo com as Geórgicas de Virgílio, com o livro a tiracolo. O camponês que o acompanhava estranhou o modo como ele semeava, podava, revolvia a terra, etc. Ele explicou:
— É assim que está escrito aqui no livro.
— Quer dizer que o livro foi escrito por uma besta.
Narrando depois o episódio, ele acrescentava:
— Virgílio era um grande poeta, mas um péssimo agricultor.(32:5183)

Com essa mentalidade e esses costumes, a ajuda mútua era corriqueira e levada com muito empenho por ambas as partes. Nenhuma sociedade pode subsistir sem a assistência mútua, sem o socorro dos grandes aos pequenos e os serviços dos pequenos aos grandes. E é incontestável que, para a eficácia da assistência mútua, para que ela possa fazer reinar a paz e a prosperidade na sociedade, não deve ser ocasional, mas constante, e para ser constante ela deve ser organizada socialmente.(50:60)
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O rei Luís XV foi passar em revista suas tropas, perfiladas numa planície em que um lavrador havia recentemente plantado trigo. O lavrador foi também ver a cena, e encontrou sua plantação destroçada pelos soldados. Achou que lhe era devida uma indenização, mas decidiu usar para isso um artifício. Começou logo a gritar:
— Milagre! Milagre!
Um oficial o interpelou:
— O que você quer dizer com isso, homem?
O lavrador continuou gritando:
— Milagre! Milagre!
Chegando o fato ao conhecimento do rei, este mandou comparecer à sua presença o lavrador, e lhe perguntou o motivo dos seus gritos.
— Um milagre, Senhor. Eu havia semeado trigo nesta terra, e o que nasceu foram soldados suíços.
O rei gostou da iniciativa do lavrador e mandou indenizá-lo.(109:315)
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A autoridade dos nobres russos sobre os camponeses era ilimitada, mas de modo geral exercida com muita moderação. Isso gerava uma grande fidelidade aos senhores, que se demonstrava das maneiras mais imprevistas. O conde Schouwaloff se endividara, e para pagar a dívida decidira vender uma de suas propriedades. Uma manhã ele acordou com grande vozerio provocado por uma multidão reunida no pátio do castelo. Levantou-se e perguntou do que se tratava. Um representante explicou:
— Ficamos sabendo que precisais vender esta vossa propriedade, para acertar vossos negócios. Mas nós estamos tranqüilos e contentes sob a vossa autoridade, e não queremos perder um senhor tão bom. Por isso nos quotizamos para trazer-vos o dinheiro de que precisais, e vos pedimos que o aceiteis.(76:149)
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Enquanto esteve prisioneira na Conciergerie, antes de ser guilhotinada, Maria Antonieta manifestou a Mme. Richard, mulher do carcereiro, que muito lhe agradaria comer um melão. Ela foi ao mercado e pediu a uma vendedora sua amiga:
— Estou precisando de um excelente melão.
— Adivinho que seja para nossa infeliz rainha. Leve este, é o melhor que tenho.
— Qual o preço?
— Guarde o seu dinheiro, e diga à rainha que muitas de nós estamos sofrendo junto com ela.(59:465)

Nas vésperas da Revolução Francesa esse quadro de harmonia e ajuda mútua estava bastante alterado, mas muito longe do grau apresentado pelos propagandistas da Revolução. Historiadores idôneos ressaltam esse aspecto. Mas, ao ressaltá-lo, reconhecem também que isso era resultado de decadência em relação aos costumes tradicionais aos quais o povo se acostumara.
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Alguns membros da nobreza abandonaram o campo para ir perder-se na corte dos reis, gastando em prazeres e luxo o dinheiro que o trabalho dos cultivadores lhes proporcionava.(50:77) Segundo Tocqueville, o absenteísmo físico conduziu os senhores a um absenteísmo de coração. Quando o nobre reaparecia junto aos seus, mostrava ares e sentimentos como os que o administrador tinha na sua ausência. Não via mais os arrendatários senão como devedores, dos quais exigia com rigor o que lhe era devido por lei ou pelo costume. Daí os sentimentos de rancor e ódio. Por outro lado, por efeito desse mesmo absenteísmo faltava a direção geral, e as terras caíam em um deplorável abandono.(50:73)
Em todos os lugares onde os proprietários fundiários haviam mantido o contato com os colonos, o antagonismo das classes não se manifestou. É o que atestam os acontecimentos do Poitou, Anjou, Vandéia, Bretanha e Normandia.(50:74)
Nos lugares onde os senhores administraram seus bens por meio de intendentes – e, por conseguinte, eram quase desconhecidos de seus colonos – perdeu-se o contato entre ricos e pobres, o antagonismo social se manifestou com grande violência. Taine registrou este fato em várias partes de seus escritos.(50:74)

Outro fator que contribuiu para esse distanciamento foi o absolutismo real, inspirado por doutrinas revolucionárias previamente disseminadas, que levou os reis de vários países a centralizar em suas mãos a administração, exigindo para isso grandes somas de dinheiro e abundante pessoal qualificado.
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Com maior ou menor afã, os diversos monarcas no fim do século XVIII tendiam para a realização em si mesmos do modelo absolutista. Esse tipo de monarca causava ao observador um primeiro impacto admirativo pela sua onipotência, a qual entretanto pairava tão-só na superfície da situação. Pois tal aparência de poder ilimitado não fazia senão velar a impotência profunda em que se colocavam os reis absolutos pelo seu próprio isolamento.(89:120) Cada vez mais desligados de nexos vitais com todos os corpos intermediários que constituíam a nação, esses monarcas absolutos já não tinham os seus apoios naturais, ou os tinham debilitados pelo estado de asfixia crescente em que o seu próprio absolutismo os punha.(89:121)
Incapaz assim de se manter de pé, de andar e de lutar com o apoio dos seus elementos constitutivos naturais, que são os grupos intermediários, a monarquia absoluta era obrigada a apoiar-se em redes de burocracias cada vez maiores. Esses organismos burocráticos eram as pesadas muletas, reluzentes mas frágeis, dessa realeza de fins do século XVIII. O funcionalismo, quanto maior, tanto mais é pesado. E quanto mais pesado, tanto mais onera aqueles mesmos que, para estarem de pé e andarem, são obrigados a carregá-lo. Assim, a realeza absoluta e burocrática foi devorando ao longo dos tempos o Estado paterno, familiar e orgânico.(89:121)

From: Chanteclair
Preciso comentar algo sobre isso, Beaugeste. Sou colecionador de frases espirituosas, e tenho uma sobre o peso exorbitante dessa burocracia: Como todo mundo quer viver à custa do governo, o governo acaba vivendo à custa de todo mundo.101 Observe que isso se aplica muito bem aos nossos dias, pois o contribuinte pode ser visto como um cidadão que trabalha para o governo sem prestar concurso.(14)

Exemplo típico de uma nobreza que resistiu a esta influência demolidora da monarquia absoluta foi a da Vandéia, na França, região que se tornou depois um dos focos de resistência à Revolução Francesa. Para se entender bem o espírito dessas reticências da nobreza vandeana ao absolutismo real (contra o qual os revolucionários de 1789 discorreram tão furiosa e prolixamente), é preciso ter em vista que o trono não teve mais ardorosos defensores do que ela, nem os revolucionários encontraram mais heróicos e altaneiros opositores.(89:120)
Comenta o insigne historiador Georges Bordonove: “A nobreza vandeana formava uma casta, não encerrada em recordações, mas animada pelo seu próprio dinamismo. A existência de Versalhes não a debilitou, nem física nem moralmente. Salvo exceções, a influência das idéias novas, o pensamento dos filósofos e dos discursos dos verbosos expositores de doutrina do ‘século das luzes’ deixavam-na indiferente. Pelo contrário, a sua tendência era para a recordação do papel que desempenhou em épocas passadas, do seu poder e da sua fartura, da sua antiga grandeza e da preeminência do Poitou. Ela sofria, sem dúvida, com a regressão da nobreza em proveito do poder centralizador do Estado. Nunca perdoou inteiramente a Richelieu por ter demolido os seus castelos feudais, nem ao Rei Sol o seu absolutismo altivo”.(89:120)

Quem lê textos como alguns dos citados, pode pensar que a revolução veio para libertar a classe trabalhadora de um iníquo estado de exploração do homem pelo homem. Os ideólogos e propagandistas da revolução procuram transmitir essa impressão falsa. Mas a situação geral não melhorou após os desmandos da Revolução, nem os ideólogos revolucionários pretendiam de fato melhorá-la, como se constata nos próximos textos.

Na França do século XVIII, a teoria da separação dos poderes significava a restrição dos poderes do rei. Mas Montesquieu, da mesma forma que Voltaire, possuía uma atitude de desprezo pelo povo, que ele classificava de “ralé”. Assim, defendeu o liberalismo político, mas estava muito longe de ser um democrata na acepção plena do termo.(71:107)
Voltaire adotava uma posição de extremo desprezo para com as camadas mais pobres da população, julgava-as merecedoras de sua sorte devido à sua “ignorância” e “grosseria”, defendendo de forma completa os interesses da rica burguesia da França. Com exceção de d’Alembert e Rousseau, todos os grandes filósofos da época tinham por característica a manifestação de desprezo pelas camadas mais humildes.(71:106)
Um historiador recente do campesinato da Borgonha descreveu a penetração dos capitais vindos da cidade para investir no campo, durante o século XVIII, como uma verdadeira “ofensiva capitalista”, que destruiu a velha comunidade das aldeias e desferiu um golpe mortal no antigo senhorio. Os camponeses lamentavam-se de que os bons velhos senhores tivessem vendido suas propriedades a burgueses indiferentes aos interesses da população rural.4:63 Uma aristocracia menos nobre substituiu outra mais nobre, uma vez que os povos nunca ficam sem aristocracia.(50:62)
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Durante a Revolução Francesa, perguntaram a Sieyès a sua opinião sobre a supressão dos títulos nobiliárquicos. Ele respondeu:
— Não é preciso destruir a aristocracia, e sim os aristocratas.(32:13517)
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O Estado que surgiu da Revolução Francesa, que roubou à família sua independência, fez também leis para suprimir essa coesão e essa permanência.(50:108) Procurou substituir quanto possível as relações de trabalho pela burocracia. Ou seja, pelos birôs de estatísticas e informações, e pelos sempre ativos serviços de informação policiais.(89:246)

Parece-me que podemos vislumbrar hoje sobre as relações entre os nobres e o povo, com base nos textos apresentados, uma imagem bastante correta e condizente com a realidade. Bem ao contrário dos slogans revolucionários,


As relações dos nobres com o povo eram cordiais e de ajuda mútua

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