NOBREZA NA HISTÓRIA

Bem vindo ao blog NOBREZA NA HISTÓRIA. Contém os cinco primeiros capítulos do meu livro A VOLTA AO MUNDO DA NOBREZA, que narra episódios interessantes descrevendo a atuação da nobreza de vários países ao longo da História. Se você gostar desses cinco capítulos, poderá adquirir o livro nos seguintes sites:
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Leon Beaugeste

segunda-feira, 26 de maio de 2008

03 - A FIGURA DO REI DESPERTA O RESPEITO E A VENERAÇÃO DO POVO

Caros amigos, várias mensagens que recebi indicam que o assunto de ontem despertou muito o interesse e a admiração, tanto dos colaboradores que já se apresentaram quanto de outros novos que vão se incorporando. E me foram enviados mais fatos na mesma linha, que incluo no dia de hoje. Um estudioso da família na época do Antigo Regime francês definiu muito bem o amor do povo aos seus reis, nos textos abaixo que me foram enviados pelo Delassus, um novo colaborador.
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O amor e afeição dos franceses pela pessoa dos seus reis era parte essencial e marcante do caráter nacional. A palavra roi provocava no espírito dos franceses idéias de beneficência, de reconhecimento e de amor, ao mesmo tempo que as de poder, grandeza e felicidade. Os franceses acorriam em multidão a Versalhes, nos domingos e dias de festa, olhando seu rei com uma avidez sempre nova, e o olhavam pela vigésima vez com tanto prazer como na primeira. Eles o viam como seu amigo, protetor e benfeitor. Diz o general Marmont: Antes da Revolução, tinha-se pela pessoa do rei um sentimento difícil de definir, um sentimento de devotamento com caráter quase religioso. A palavra roi tinha ainda uma magia e um poder em nada alterados. Esse amor se tornava uma espécie de culto.(50:38)
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O povo francês sentia-se vaidoso em obedecer aos seus reis, em comparação dos quais todos os demais monarcas da Europa ou da Ásia não passavam de reis de província. Orgulhava-se do incontestável prestígio dessa augusta família, à qual estavam ligados seus destinos. Não pouco se envaideciam de que a corte da França fosse suntuosa, ou que o palácio de Versalhes fosse o mais admirado do mundo. Para a corte francesa, o esplendor era indispensável. E não era a vaidade dos príncipes, mas a vaidade do povo que o tornava necessário. Um burguês parisiense comentou de modo muito sério com um inglês:
— O que é feito do vosso rei? Ele está mal acomodado, dá até pena... Veja o nosso... Não é soberbo este palácio? Tendes um semelhante para mostrar? Que grandeza e que brilho! Nossos príncipes de sangue têm uma corte mais brilhante do que a do vosso rei da Inglaterra.
Dessa maneira o povinho se glorificava com a magnificência dos seus reis.(41:81)
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Os males dos quais as pessoas reclamavam, ninguém pensava em atribuí-los à realeza ou ao rei. Em todos os registros, os franceses demonstravam um ardente realismo, um ardente devotamento à pessoa de Luís XVI. Sobretudo nos registros do primeiro grau, ou das paróquias, era um grito de confiança, de amor, de gratidão: Nosso bom rei! O rei nosso pai! – eis como se exprimem os operários e os camponeses. A nobreza e o clero, menos acanhadamente entusiastas, se mostravam também realistas.(50:39)

Não posso deixar de acrescentar alguma coisa sobre a minha inesquecível Maria Antonieta.
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Em carta à sua mãe, imperatriz Maria Teresa, a futura rainha da França narrou a sua entrada juntamente com o delfim (futuro Luís XVI) em Paris: “Quanto às honras, recebemos todas as que se possam imaginar. Mas o que mais me tocou foi a ternura e a solicitude dessa pobre gente, que estava enlevada de alegria por nos ver. Quando fomos passear nas Tulherias, havia uma multidão tão grande, que ficamos quase uma hora sem poder avançar nem recuar. O delfim e eu recomendamos com insistência aos guardas que não maltratassem ninguém, o que produziu muito bom efeito. Houve tanta ordem nesse percurso, que ninguém se feriu, apesar do grande número dos que nos acompanharam. Na volta, subimos a um terraço e aí ficamos meia hora. Não consigo transmitir, mamãe, o arrebatamento de alegria e afeto que nos foram manifestados. Antes de nos retirarmos, saudamos o povo com as mãos, e todos gostaram muito. Como é bom, na nossa condição, conquistar a amizade de um povo por tão pouco! Nada existe tão precioso. Eu o senti, e disso jamais me esquecerei”.(86:249)
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A rainha Maria Antonieta passeava a cavalo no Bois de Boulogne e encontrou Luís XVI, que havia dispensado a guarda e caminhava acompanhado por um grupo de curiosos. Apeou do cavalo, o rei correu para ela e a abraçou, beijando-a na fronte. A multidão aplaudiu comovida, e então o rei completou sua demonstração de carinho depondo-lhe um ósculo em ambas as faces. O entusiasmo da multidão chegou ao auge, e se fez ouvir em todo o bosque.(41:86)
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Por ocasião do nascimento do delfim – primeiro filho do rei Luís XVI e Maria Antonieta, com direito à sucessão – toda a França comemorou o evento com alegria esfuziante. Sucessivas delegações de todas as classes, de todas as corporações de ofício, de todas as regiões do país se apresentavam em Versalhes para felicitar o casal real e dar as boas vindas ao herdeiro do trono. Nas ruas, desconhecidos se cumprimentavam e se abraçavam alegres, como se fossem velhos amigos. Não poderiam faltar as inúmeras cançonetas, uma das quais fez muito sucesso e foi mesmo repetida em outras ocasiões pelo próprio rei:
Não receeis, caro papai,
Que aumente vossa família;
Dela cuidará o bom Deus.
Qual formigueiro cheio em Versalhes,
De Bourbons haja centenas
Com pão e sucesso para todos.(15:150)
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Entre os que afluíram a Versalhes a fim de manifestar ao rei e à rainha o contentamento dos franceses pela existência de um herdeiro sucessor do trono, Maria Antonieta recebeu três representantes da grande comitiva de mulheres parisienses de vida fácil. Uma delas externou o sentimento de todas:
— Madame, há muito tempo nós vos amamos, mas não ousávamos dizê-lo. Precisamos de todo o vosso respeito para não abusar da permissão que agora nos concedeis para manifestá-lo.(59:179)
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Em meio aos sofrimentos e apreensões dos anos que vão da queda da Bastilha à execução do rei e da rainha, os insultos e agressões dos revolucionários eram parcialmente compensados por muitas demonstrações de fidelidade e devotamento. Em Saint-Cloud, numa tarde em que não havia a guarda a postos e o palácio estava quase vazio, a rainha trabalhava nos seus aposentos quando ouviu um murmúrio de muitas vozes no pátio diante das suas janelas fechadas. Abriu-as e viu um grupo de umas cinqüenta pessoas, composto de algumas mulheres com trajes de camponesas locais, velhos cavaleiros de São Luís, jovens cavaleiros de Malta e alguns eclesiásticos. Cumprimentou-os amavelmente, e eles lhe disseram:
— Tende coragem, senhora. Os bons franceses sofrem por vós e convosco. Rezam também por vós, e o Céu nos atenderá. Nós vos amamos e vos respeitamos, e veneramos nosso bom rei.
Com lágrimas nos olhos, a rainha agradeceu e se despediu, recomendando-lhes que tivessem prudência.(15:273)
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No dia seguinte ao retorno da família real francesa de Versalhes a Paris, algumas das mulheres que participaram das atrocidades desse dia se reuniram diante da janela dos aposentos da rainha nas Tulherias e gritaram:
— Queremos ver a rainha!
Ela se apresentou, e uma das mulheres que agia como líder do grupo assumiu um papel como o de conselheira, dizendo:
— É necessário que a senhora se afaste de todos esses cortesãos que desencaminham os reis. E também é preciso amar o povo desta cidade.
— Mas eu já vos amava enquanto morei em Versalhes, e agora continuarei a amar-vos morando entre vós.
— Sim, mas no dia 14 de julho queríeis sitiar e bombardear a cidade; e no dia 6 de outubro pretendíeis fugir para a fronteira.
— Isso é o que vos disseram, e infelizmente acreditastes. Os que espalham essas falsidades são os mesmos que promovem a infelicidade do povo e a do melhor dos reis.
Uma delas disse alguma coisa em alemão, como para insultá-la com o epíteto de “a austríaca”, que os revolucionários usavam, e a rainha prontamente a interrompeu:
— Eu não entendo o que falais. Agora sou tão francesa quanto vós, e até esqueci a minha língua materna.
Prolongados aplausos se seguiram a esta resposta, e depois uma delas pediu-lhe como lembrança a fita que prendia os seus cabelos. Foi-lhes entregue, e logo repartida entre elas com alegria.(15:251)
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O assalto dos amotinados às Tulherias forneceu exemplos de como essa parte da população estava furiosa apenas por ter-se deixado manipular pelos líderes revolucionários, convencendo-se das calúnias que estes divulgavam. Atrás de uma grande mesa, e cercada por seus filhos e pessoas de confiança, Maria Antonieta foi insultada por uma jacobina das mais furiosas. A rainha lhe perguntou:
— Já me havíeis visto antes?
— Não.
— Eu já vos fiz pessoalmente algum mal?
— Não, mas fazeis mal à nação.
— Isso é o que outros vos disseram, mas fostes enganados. Sou esposa do rei da França e mãe do delfim. Sou francesa, e jamais voltarei ao país onde nasci, portanto só poderei ser feliz ou infeliz na França. E eu era feliz quando o povo me amava.
A megera jacobina começou a chorar, e disse:
— Isso aconteceu porque eu não vos conhecia. Mas agora vejo que sois boa.(15:336)

A Revolução Francesa executou na guilhotina o rei e a rainha, dizimou grande parte da nobreza francesa e instalou a república, seguindo-se o império ditatorial de Napoleão até 1814. Depois das gloriosas batalhas de Napoleão, que subverteram toda a ordem na Europa, o povo ansiava pela volta da monarquia. Restaurada esta, o conde de Provence assumiu com o nome de Luís XVIII. Impossibilitado pela gota, foi representado no desfile pelo seu irmão, conde de Artois. O historiador Georges Bordonove narra a recepção calorosa feita na ocasião:
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O conde de Artois fez a sua entrada solene em Paris, no dia 10 de abril de 1814. Não havia nas casas janelas suficientes para conter a multidão entusiasmada, que ficara rouca de tanto gritar. O tempo estava esplêndido. O sol de abril iluminava aquela profusão de bandeiras brancas, flores, fisionomias risonhas. Crianças e jovens agarravam-se às grades; outros valentes, empoleirados nos telhados, agitavam chapéus. Tambores soavam. Os cavalos caracolavam sobre as calçadas. De todos os lados fundiam-se, espontaneamente, os brados de: Vive le Roi! Vive Monsieur! Quanto mais próximo do centro de Paris, maior a alegria, o entusiasmo transformava-se em delírio. Monsieur era realmente um belo homem! Conservava um tal porte apesar dos seus 57 anos! Envergava tão bem o seu uniforme azul com ornatos e dragonas de prata! Montava com tanta elegância o magnífico cavalo branco que lhe fora oferecido! Tinha um olhar tão altivo, e ao mesmo tempo tão cheio de bondade! Respondia às aclamações com tanta graça! Havia tanto tempo que não se via um verdadeiro príncipe, encantador e cavalheiresco!
Assim avançava ele em direção a Notre-Dame. Monsieur deixava a multidão aproximar-se, tocar-lhe as botas, os estribos, o pescoço do seu cavalo. Esta ousadia agradava. Os marechais do Império seguiam-no: alguns tinham-se apresentado a ele com a cocarda tricolor; outros não ocultavam a sua hostilidade; todos estavam ansiosos por conservar o seu posto. Monsieur cumprimentou-os. Pouco a pouco eles deixaram-se conquistar pela euforia geral. A movimentação e as exclamações alegres daquela multidão os desconcertavam. Não compreendiam por que os parisienses entusiasmavam-se a tal ponto por esse príncipe, um desconhecido para eles até à véspera. Uma misteriosa centelha havia eletrizado os corações. Fora Monsieur que a acendera. Ele tinha o dom de agradar, de seduzir tanto as multidões quanto os indivíduos; hoje diríamos: um carisma. Ele era conforme à imagem que se fazia de um príncipe: havia simplicidade no seu comportamento, e também esse à vontade supremo que não se aprende, pois se herda.
Com dificuldade abriu-se caminho para ele até Notre-Dame, onde estava previsto um Te Deum. Os acontecimentos tinham-se precipitado de tal maneira, que não houve tempo de decorar a catedral. Viu-se que ele se ajoelhava e rezava com fervor. Agradecia à Providência por lhe ter concedido a alegria de ter reconduzido a França ao trono dos lises.(89:318)

From: Kaunitz
Conheço um episódio semelhante a este, que mostra o apreço dos austríacos pelo seu imperador, mesmo depois de uma grande derrota militar. Após a batalha de Wagram, em 1809, as tropas napoleônicas permaneceram em Viena durante vários meses. Depois que se retiraram, o imperador Francisco I voltou à capital e foi recebido carinhosamente pela população. O historiador João Batista Weiss narra a recepção que lhe foi feita:
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A 26 de novembro as tropas austríacas retornaram a Viena; no dia 27 chegou o imperador às 4 da tarde. Já desde a madrugada, milhares e milhares de pessoas se dirigiram a Simmering, para receber o amado imperador. Toda Viena estava de pé, comprimidos uns contra os outros, aguardando como filhos que esperam o seu amado pai. Finalmente, às 4 horas ele se apresentou, sem nenhuma guarda, numa caleche aberta e com uniforme do seu regimento de hussardos, tendo ao seu lado o mordomo-mor conde de Wrbna. A terra e o ar pareciam tremer com os clamores de júbilo: ‘Bem-vindo seja o nosso pai!’. Os lenços não paravam de acenar.
O Burgomestre dirigiu-lhe umas palavras:
— Amado príncipe: quando um povo em luta contra o infortúnio, sofrendo de mil maneiras, só pensa nas penas do seu príncipe, o amor repousa sobre o mais profundo sentimento, firme e imperecível. Nós somos esse povo. Quando os nossos filhos caíam na luta sangrenta, quando balas incandescentes destruíam as nossas casas, quando os alicerces de Viena estremeciam com o ribombo das batalhas, pensávamos em ti. Príncipe e pai, pensávamos então em ti com silencioso amor. Pois não quiseste essa guerra. Só a fatalidade da época a impôs. Quiseste o melhor. O autor das nossas penas não foste tu. Sabemos que nos amas; sabemos que a nossa ventura é a tua sagrada e firme vontade. Amiúde sentimos as bênçãos da tua paternal bondade, marcaste o teu regresso com novos benefícios. Sê pois, príncipe paternal, saudado com amor imutável no meio de nós.
É verdade que o mau resultado da guerra privou-te duma parte dos teus súditos. Mas esquece a dor das tuas perdas na íntima união dos teus leais. Não o número, mas apenas a vontade firme e constante, o amor que tudo une, são os apoios sagrados do trono, e todos estamos animados deste espírito. Queremos suprir o que perdeste. Queremos ser dignos da nossa pátria, pois nenhum austríaco abandona o seu príncipe quando dela se trata. Ainda que os muros que rodeiam o teu palácio caiam em ruínas, o mais firme castelo são os corações do teu povo.(89:317)

Os reis tinham o desejo de manter contato freqüente com seus súditos, o que os levava muitas vezes a contrariar os próprios conselheiros e auxiliares.
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Caminhando por entre a multidão nas ruas de Nantes, José II observou que a guarda afastava rudemente as pessoas para que ele passasse. Pediu então ao comandante da guarda:
— É melhor fazer isso suavemente, senhor. Um homem não precisa de tanto espaço para andar.(27:2:341)
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O imperador austríaco Francisco José compareceu de surpresa à academia militar de Wieder-Neustadt, e quis assistir à aula de História que daria o capitão Ebersberg. Sentou-se no primeiro banco e pôs de lado o chapéu. Um dos cadetes, para ter uma lembrança do monarca, conseguiu tirar às escondidas uma pena do chapéu. Mas outros viram e lhe fizeram sinais, cada um indicando que também queria uma. Quando o chapéu já estava em condições deploráveis, escorregou e caiu ao chão. Ouvindo o ruído, Francisco José se voltou, viu o cadete com uma pena na mão, e perguntou:
— O que queres com essa pena?
— Guardá-la como recordação. Mas todos os meus companheiros também querem uma.
— Ora, rapazes, assim não tenho alternativa senão deixar-vos todo o meu chapéu.
Entregou o chapéu, depois voltou-se para o professor e disse:
— Agora, senhor capitão, preciso recorrer ao empréstimo do seu chapéu.(32:5838)

From: Borghese
Beaugeste, estou acompanhando o seu blog, e tudo me parece muito interessante, inteiramente fora do que se ouve por aí sobre a nobreza antiga. Tenho ascendentes italianos, e vou narrar alguns fatos da Itália, que meus pais me contavam. E você verá que confirmam o que precisa ser comprovado para o seu professor.
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Enquanto Vitório Emanuel II caminhava no alto de uma montanha, viram-no dois camponeses, e um sugeriu:
— Aquele é o rei. Vamos nos esconder atrás daquela árvore e observá-lo, pois nunca o vi de perto.
O rei ouvira a proposta, aproximou-se e disse:
— Podem olhar-me bem, sem medo. Agora vocês já sabem que sou um homem como qualquer outro. E para se lembrarem bem do meu rosto, fiquem com estas moedas, onde ele está gravado.(1:268)
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Vitório Emanuel II encontrou um camponês andando descalço e carregando os sapatos na mão.
— Por que não calças os sapatos?
— Porque assim eles se gastam.
— E a tua pele, não se gasta também?
— Sim, mas ela volta.
O rei deu uma gargalhada e perguntou:
— Como te chamas?
— Alberto.
— Tens o nome do meu pai, e eu quero proteger os teus pés. Toma este dinheiro para pagar os sapatos.1:266
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Em visita oficial a Lucca, Vitório Emanuel II sempre perguntava a quem o cumprimentava:
— Qual a tua profissão?
Apresentou-se o proprietário de uma hospedagem famosa da cidade, chamada O Universo. Ao lhe ser feita a pergunta, respondeu:
— Majestade, sou o dono do Universo.
— Caramba! E eu sou apenas o rei da Itália!(32:14948)
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Em 1888 a rainha Margarida de Sabóia visitou Forlimpopoli a convite do prefeito. Quando subia a escada da prefeitura, encontrou um ancião ex-combatente que descia e cumprimentou-a. Perguntou-lhe:
— Onde o senhor esteve?
— Senhora, estive na prefeitura para entregar à rainha um pedido de condecoração.
— Em quais feitos de armas se baseia o pedido?
Ele os contou com demonstrações de orgulho, e a rainha prometeu:
— Recomendarei o pedido à rainha.
— A senhora a conhece?
— Um pouco.
Quando chegou embaixo, foi quase sufocado pela multidão querendo saber o que lhe tinha dito a rainha.
— A rainha?! Que estúpido sou eu, por não ter reconhecido a rainha. Quem mais poderia ser uma senhora tão bela e gentil?(32:9202)

From: Escovedo
Não posso deixar passar a oportunidade, que já venho esperando desde o primeiro dia do seu blog, para apresentar alguns fatos muito significativos do contato amistoso dos reis espanhóis com o seu povo. Vou limitar-me hoje a apenas três, mas ainda tenho muitos outros que irei apresentando com o tempo.
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Numa cidade de Aragão havia o costume de eleger, durante a Epifania, um rei para presidir às festas e aos banquetes. Passando Carlos V pela cidade numa dessas ocasiões, o rei escolhido o procurou, e disse em tom de brincadeira:
— Senhor, hoje eu também sou rei.
No mesmo tom, o imperador respondeu:
— Meu caro, escolheste uma profissão muito ruim. Basta ver-me.(32:2434)
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Em 1845, a rainha Isabel II visitou a vila de Mendaro, nas Vascongadas. Os habitantes prepararam os saborosos biscoitos que ali se produzem, e pediram ao sacristão do lugar, mais versado na gramática espanhola, que os oferecesse à rainha. Diante dela, o sacristão se desincumbiu dizendo o seguinte:
— Senhora nossa rainha, Mendaro não tem melhores do que estes. Comei-os, com vossa mãe e vossa irmã, lembrando que os damos de coração.(109:504)
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Em 1908, durante o governo de Maura, o rei Afonso XIII declarou que pretendia ir a Barcelona, onde a situação era particularmente grave. Alguns conselheiros lhe expuseram o risco que havia, e este proclamou, peremptoriamente:
— Senhores, quero que saibam que sou o rei de toda a Espanha. No dia em que me inspire temor a idéia de visitar uma parte qualquer do meu reino, serei suficientemente honrado para abdicar imediatamente.(109:2821)

From: Heródoto
Sou historiador, meu caro Beaugeste, e conheço muitos fatos como os que você pediu, especialmente do mundo antigo, e irei fornecendo-os à medida que se encaixarem nos que você já vai coletando. Desculpe a falta de modéstia na escolha do pseudônimo, que afinal é o nome do “pai da História”. Estou bem longe disso, mas posso dar-lhe uma contribuição valiosa com os dados que tenho. Parece-me que os outros colaboradores têm mencionado fatos sobre reis e nobres da civilização cristã, desde a Idade Média, mas também no mundo antigo a disposição geralmente era a mesma, embora se tratasse de pagãos. Eis um fato do mundo romano.
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César foi aconselhado por amigos a ter mais cuidado com a própria segurança, evitando andar sozinho no meio do povo. Respondeu:
— Quem vive com o temor da morte, sente-se torturado a cada instante. Eu prefiro morrer uma vez só.(30:157)

From: Egmont
Beaugeste, meus pais são originários da Bélgica, e por isso me interessei sempre pelos fatos ligados àquela região e vizinhanças, inclusive os países nórdicos. Do que foi dito ontem e está sendo acrescentado hoje sobre a facilidade de contato do povo com os seus reis, conheço muitos exemplos. Aí vão alguns.
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O rei Carlos XII da Suécia levantou-se muito cedo e foi à casa de um dos ministros, para conferenciar com ele. Sem identificar-se, teve de permanecer bom tempo na sala de espera, junto com as outras pessoas, enquanto o ministro se preparava. Um soldado puxou conversa, e estiveram trocando idéias até chegar o ministro. Ao entrar, este logo reconheceu na sala o rei e foi pedir-lhe desculpas pela falta de experiência dos seus funcionários. E o soldado, aturdido, também foi desculpar-se pela excessiva familiaridade com que o tratara:
— Perdoai, senhor. Eu vos havia tomado por um homem.
— Nada há de mau nisso. Afinal, um rei é o que mais se parece com um homem.(10:213)
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No dia em que deveria receber o prêmio Nobel de literatura, Pirandello chegou um pouco atrasado à cerimônia na Casa de Concertos de Estocolmo. Andando pelos amplos corredores do edifício, não sabia como se orientar, e abordou um senhor que lhe pareceu militar de alta patente. Perguntou-lhe onde ficava a sala de recepção, e o desconhecido lhe disse amavelmente que também se dirigia para lá. Foram juntos até perto da porta de entrada, e então o escritor perguntou com quem tivera a honra de falar.
— Meu nome? Sou o rei Gustavo.
Pirandello declinou o seu nome, e o rei, ainda mais amavelmente, respondeu:
— Foi uma satisfação poder conhecê-lo antes da cerimônia. Pode entrar, porque já está na hora. Eu precisarei esperar, já que o protocolo exige que seja o último a entrar no salão.(81:248)
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O rei Oscar II da Suécia visitava uma cidade do interior, e lhe foi preparada uma festiva recepção, com todas as ruas engalanadas. Na fachada de um grande edifício fora colocada uma faixa com os dizeres “Sede bem-vindo, Senhor”. Quando passou por ali, perguntou:
— Que edifício é aquele?
— A prisão municipal.
O rei deu uma boa gargalhada, e comentou:
— Aprecio muito a saudação. Mas boas vindas a uma prisão, parece-me cordial demais...(109:563)

Veja no próximo fato a naturalidade com que se tratam um juiz de aldeia e o austero imperador alemão.
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Viajando incógnito pelo interior da Hungria, o cáiser Guilherme I encontrou na vizinhança de Toeplitz um juiz húngaro caminhando tranqüilamente pela estrada, fumando seu cachimbo. No seu conhecido estilo de sub-oficial alsaciano, que só os soldados prussianos sabem apreciar, interpelou o juiz:
— Quem és tu, meu rapaz?
— Juiz da comarca.
— Estás contente com a tua posição?
— Sem dúvida.
— Muito bem, eu te felicito.
Quando o cáiser ia se afastando, o juiz devolveu a pergunta:
— Quem és tu, meu rapaz?
— Sou o rei da Prússia.
— Estás contente com a tua posição?
— Sem dúvida.
— Muito bem, eu te felicito.
E prosseguiu tranqüilamente a sua caminhada.(27:2:415)

Nem sempre o conceito do rei sobre o seu povo era muito lisonjeiro, o que não o impedia de tratá-lo sempre com benevolência.
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Diferente dos seus antecessores, Catarina II gostava que se falasse do povo russo com grande admiração. Um dia Narischkine a interpelou:
— Majestade, quando eu era jovem, falava-se da Rússia como a última das nações, e os russos eram tratados como animais selvagens, bárbaros. De algum tempo para cá, afirma-se que somos o primeiro povo do mundo. Antes éramos os últimos, agora somos os primeiros. Gostaria que Vossa Majestade me informasse em que momento estivemos em paridade com os outros.(32:2701)
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Durante uma revista às suas tropas, um oficial fez notar a Frederico II a grande multidão que lhe tirava o chapéu quando ele passava, e observou:
— Gostaria de saber como é que essa gente toda se mantém.
— Vivem de enganar-se uns aos outros, e todos de enganar-me.(109:1566)

Embora variando muito de um país para outro, em decorrência das marcantes diferenças psicológicas e culturais entre as várias nações, era sempre cordial e ameno o trato dos reis com o seu povo. E uma constante nunca se desmente:


A figura do rei desperta o respeito e a veneração do povo

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